A alfabetização é um momento super importante para crianças e pais, um ponto de virada na vida. Já pensou que uma vez que aprendemos a ler, não conseguimos mais voltar atrás e não ler mais, impossível! Um processo automático, ao bater o olho estamos lendo.
Mas esse não é um processo fácil para o nosso cérebro, aliás é tido como um dos processos de mais alta complexidade, pois envolve desenvolvimento de diversas conexões a serem feitas.
A leitura faz parte de um processo mais completo que podemos chamar de linguagem, e se inicia a partir da oralidade.
Em crianças típicas (aquelas sem alterações que possam comprometer a linguagem oral), os estudiosos apontam que o desenvolvimento acontece rapidamente, por volta de 2 anos de idade, a partir da influência do meio onde a criança está inserida. Nesta etapa do desenvolvimento a família é a principal influenciadora.
Com 3 anos de idade, crianças que tem em seu vivência, bastante contato com a fala, já adquiriram vocabulário suficiente para falar sentenças mais elaboradas.
E quando a criança começa a frequentar a pré-escola, ao redor de 4 anos de idade, ocorre um aumento significativo do vocabulário.
Sabemos também que aquelas crianças que convivem em locais onde muitos assuntos são tratados, aprendem um número maior de palavras e conseguem formar frases, narrativas mais completas e complexas.
E por incrível que isso possa parecer, o interesse e a descoberta da leitura podem começar bem antes da entrada da criança na escola. Aquele gostoso momento de ler um livro, as histórias infantis, manusear livros e revistas, mostrar as figuras e recontar as histórias, estão criando milhões de conexões cerebrais. Crianças que ainda não leem podem reconhecer nas embalagens, as marcas, logos, nomes de restaurantes porque começam as fazer relações entre imagem e linguagem.
Crianças pequenas imitam os adultos, tanto na leitura quanto na escrita. Antes de entrar na escola, antes de ter contato formal com a leitura e com as escrita, já vemos crianças pegarem papel e lápis e rabiscarem, dizendo: “Escrevi o meu nome”.
Leitura e escrita caminham lado a lado, mas ao contrário da fala, essa não é uma habilidade intuitiva para a esmagadora maioria das crianças.
Nas línguas alfabéticas como o português, inglês, espanhol, etc., é necessário conectar letras escritas em uma folha de papel ou uma tela ao som das palavras que falamos, e essa não é uma tarefa usual para o nosso cérebro.
Essa capacidade de correlacionar o som e a escrita, é conhecida como consciência fonológica. É através dela que percebemos que as palavras que falamos são compostas de várias unidades de som, que juntando-se vão formando sílabas e depois palavras completas.
Muitos estudos como o de John Kirby da Queens University, mostram que a ativação da consciência fonológica, é o preditor chave de uma boa alfabetização, exercendo um papel fundamental.
A importância de trabalhar a consciência fonológica é ainda mais relevante no caso de crianças com algum transtorno de aprendizagem como dislexia, déficit de atenção ou TEA (transtorno do espectro autista).
Estimular a consciência fonológica no princípio do processo de alfabetização, ensina a criança a correlacionar as unidades mínimas (letras) aos sons falados (fonemas) sendo feito de maneira sistematizada na alfabetização fônica. E aí entra a discussão, então o método fônico é melhor que o global?
A educadora Catherine Snow de Harvard, uma das principais especialistas em alfabetização no mundo, indica que o melhor mesmo é a utilização de um mix, que trabalhe tanto o método fônico quanto o global, gerando um ganho maior para todas as crianças.
Mas ela ressalta que no 1º ano, o que traz maiores resultados é o trabalho fônico, relacionando sons e letras.
Brincadeiras com rimas, palavras parecidas e jogos como o Dom e as Letras , fazem com que o processo da alfabetização como um todo aconteça de forma mais sólida.
Com o caminhar do aprendizado, as crianças precisam identificar as palavras e construir significados. No estágio inicial da leitura ocorre uma decodificação de letra por letra. Ao se tornarem leitores fluentes, lêem as palavras conhecidas e do repertório, como se fossem uma imagem, uma fotografia da palavra. Não é mais necessário decodificar cada letra. Por isso a leitura se torna mais rápida.
É preciso também compreender o que estamos lendo (exemplo: podemos decodificar as letras de uma palavra de uma língua estrangeira, mas não sei o que ela quer dizer). Para a leitura ter significado, unimos o que foi lido em pensamento, levando para áreas do cérebro que irão fazer correlações com outros aprendizados, buscando um conjunto de informações: a ortografia (como é escrita), a semântica (o significado da palavra) e a fonologia (como é pronunciada).
Cada criança tem seu próprio tempo de aprendizado, mas quando observamos uma demora maior em relação ao restante da turma da escola ou a outros amiguinhos da mesma idade, um alerta deve se acender.
Sabemos que para aprender a ler e a escrever, precisamos de estruturas orgânicas e funcionais sem alteração. Quando há um impedimento, como uma deficiência auditiva, uma deficiência intelectual, uma dislexia ou TDAH, podemos ter este processo diferente ou mais lento.
O importante é estar atento aos sinais de dificuldade logo no início, buscando alternativas para apresentar o mundo da leitura e escrita com uma abordagem facilitadora do processo.
Quanto mais cedo se observa a dificuldade e se proporciona uma nova abordagem mais adequada, maiores serão as chances desta criança se tornar uma boa leitora, com fluência e compreensão de texto.
Lembre-se sempre de observar o interesse de forma isenta, se a criança se interessa pela leitura, mas não faz as conexões, os exercícios de consciência fonológica são a primeira recomendação.
E sempre busque um especialista se desconfiar que algo mais pode estar atrapalhando o processo. Estar atento e buscar informação de qualidade para apoiar o processo é sempre o melhor caminho.
Nadine Heisler CEO Domlexia
Sabrina Vieira da Luz CPO Domlexia
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